Uma matéria publicada pelo jornal norte-americano The Wall Street Journal, na última quarta-feira (15), revela, a partir de documentos, que o Facebook sabe que o Instagram é prejudicial para jovens meninas.
Anastasia Vlasova, uma adolescente entrevistada pela reportagem, afirmou que que há cerca de um ano começou a fazer terapia, depois que desenvolveu um distúrbio alimentar causado pelo tempo em que passava no Instagram.
No mesmo período em que Anastasia começou seu tratamento, pesquisadores que pertencem ao Facebook estudavam o problema.
Em uma apresentação de slides feita em março de 2020, a equipe anunciou que 32% das adolescentes disseram que, quando se sentiam mal com seus corpos, o Instagram contribuía para piorar esse sentimento.
O levantamento foi revisado pelo WSJ e mostra que comparações no aplicativo podem mudar a forma como jovens mulheres se veem e se descrevem.
Nos últimos três anos, o Facebook realizou estudos sobre como o Instagram afeta seus milhões de usuários, principalmente adolescentes. Um slide de 2019 aponta que o aplicativo piorou os problemas de imagem corporal para uma em cada três garotas. Outros dados mostram que elas culpam a plataforma pelo aumento nas taxas de ansiedade e depressão.
“Entre os jovens que relataram pensamentos suicidas, 13% dos usuários britânicos e 6% dos usuários americanos relacionaram o desejo de se matar com o Instagram”, mostrou uma apresentação da empresa.
De acordo com a publicação, mais de 40% dos usuários do Instagram têm 22 anos ou menos, e cerca de 22 milhões de adolescentes acessam o aplicativo nos EUA todos os dias, em comparação com cinco milhões de pessoas da mesma faixa etária que entram no Facebook, número que vem encolhendo há anos.
O Facebook não tornou sua pesquisa pública ou disponível para acadêmicos ou legisladores que solicitaram o material. Em uma audiência no Congresso dos EUA em março de 2021, o CEO Mark Zuckerberg disse que o levantamento revelava que o uso de aplicativos para se conectar com outras pessoas pode ter benefícios positivos para a saúde mental.
Em maio, o chefe do Instagram, Adam Mosseri, disse à imprensa que as pesquisas mostravam que o efeito da plataforma sobre o bem-estar dos adolescentes era provavelmente “bastante pequeno”. Entretanto, disse que se esforçava para que a empresa abraçasse suas responsabilidades de forma mais ampla.
A reportagem mostra também que a empresa de Zuckerberg fez pesquisas online e estudos diários em 2019 e 2020. Além de estudos em larga escala com dezenas de milhares de pessoas em 2021 que associaram as respostas dos usuários com os próprios dados do Facebook sobre quanto tempo eles passaram no Instagram e o que viram lá.
Em cinco apresentações ao longo de 18 meses, os funcionários responsáveis pela pesquisa realizaram o que chamaram de “mergulho profundo na saúde mental adolescente” e estudos de acompanhamento. A equipe chegou à conclusão de que alguns dos problemas eram específicos do Instagram, e não das mídias sociais de forma geral. Principalmente em relação à chamada “comparação social’.
A tendência de compartilhar apenas os melhores momentos e a pressão para parecer perfeito podem levar adolescentes a distúrbios alimentares e à depressão, de acordo com uma pesquisa interna feitam em março de 2020. Além disso, o algotitmo pode direcionar os usuários a conteúdos prejudiciais. A pesquisa foi revisada pelos principais executivos do Facebook, e foi citada em uma apresentação em 2020 dada a Zuckerberg.
Em agosto deste ano, os senadores Richard Blumenthal e Marsha Blackburn em uma carta ao CEO pediram para que ele deixasse pública o levantamento de dados internos do Facebook sobre o seu impacto na saúde mental dos jovens.
Em resposta, a empresa enviou aos senadores uma carta de seis páginas que não incluía os próprios estudos. Em vez disso, disse que há muitos desafios relacionados à realização de pesquisas neste campo e apontou: “Não estamos cientes de um consenso sobre quanto tempo de tela é ‘demais'”.
Em um estudo com adolescentes nos EUA e no Reino Unido, o Facebook descobriu que mais de 40% dos usuários do Instagram que se sentiam “pouco atraentes” disseram que isso começou ao usarem o aplicativo. Cerca de 25% que relataram “não se sentirm bons o suficiente” também culparam a plataforma.
Entretanto, os pesquisadores observaram que os jovens que lutam contra os efeitos psicológicos da plataforma não estavam necessariamente deixando de usá-la. Os adolescentes relataram regularmente querer passar menos tempo no Instagram, mas não tinham autocontrole para isso.
Em março, os profissionais ainda disseram que o Instagram deveria reduzir a exposição a conteúdos de celebridades sobre moda, beleza e relacionamentos, ao mesmo tempo em que deveriam aumentar a exposição ao conteúdo de amigos próximos dos usuários.
Durante o isolamento social da pandemia da covid-19, “se você quisesse mostrar aos seus amigos o que estava fazendo, você tinha que usar o Instagram”, disse Destinee Ramos, 17 anos, ao WSJ. “Estamos inclinados a chamá-lo de obsessão”.
Os meninos não estão imunes aos problemas causados pela rede scoial. Nas pesquisas feitas em 2019, 14% dos jovens americanos disseram que o Instagram piorou sua autoestima. Além disso, em um relatório sobre imagem corporal feito em 2020, os pesquisadores descobriram que 40% dos adolescentes experimentaram comparação social negativa.