Você já escutou aquela música que fala “reconhece a queda e não desanima. Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”? Pois bem, este trecho pode resumir a trajetória de muitos empreendedores mundo afora. Após chegarem perto da falência, eles não desistiram e deram a volta por cima com muita persistência e coragem.
Qualquer pessoa que pretende se arriscar no mundo dos negócios deve saber, de antemão, que o caminho para o sucesso é longo e cheio de armadilhas. No meio do percurso, momentos desesperadores e situações de crise são inevitáveis.
Para José Luiz Castilho, consultor empresarial da Resulta Consultoria, muitos empreendedores não aceitam lidar com essa situação e desistem antes mesmo de tentar revertê-la.
“Eles não têm a disciplina e a estrutura emocional suficiente para conviver com isso. No plano de recuperação de uma empresa, você precisa ser duro para tomar decisões estressantes, como demitir funcionários e renegociar suas dívidas”, pontua Castilho.
Por isso, é necessário incluir, logo no planejamento, alternativas para enfrentar os momentos de crise e até fazer uma reserva de dinheiro antes mesmo de tirar o projeto do papel.
“Os gastos com fornecedores, transportadores e produção sempre chegam, mas não temos certeza se a receita vai vir. E, além disso, o retorno demora para acontecer”, alerta o consultor empresarial.
“Dar a volta por cima” não faz parte só das histórias de empreendedores famosos. Tem muito empresário que já tentou, já fracassou e já se reergueu, mas não estampa capas de revistas.
A seguir, conheça cinco histórias de empreendedores, famosos ou não, que estiveram próximos da falência e deram a volta por cima ou tiveram de encerrar projetos e recomeçar um novo do zero:
Steve Jobs, da Apple
Provavelmente, você tem ou conhece alguém que possui um aparelho da Apple – iPhone, iPad, MacBook, entre outros. Em plena era dos smartphones e tablets, chega a ser inimaginável pensar que a maçã mais famosa do mundo já esteve perto da falência.
Apesar de ter sido fundada no dia 1o de abril de 1976, a história de que a Apple chegou perto de falir é verídica. Para quem não sabe, a empresa começou no quarto de Steve Jobs, onde ele e seu sócio Steve Wozniak criaram a Apple I, um dos primeiros computadores pessoais do mundo. Ao todo, venderam 200 aparelhos por 666,66 dólares.
Aos poucos, novos produtos e mais vendas. O sucesso chegou de vez no lançamento do Macintosh, em 1983. A empresa cresceu e contratou muitos funcionários. No entanto, conflitos de ideias começaram a surgir na liderança, até que Jobs foi expulso da Apple, em 1985.
Sem a cabeça criativa e ousada, o fracasso estava começando a ser desenhado. Nenhum outro produto da empresa fez sucesso depois da saída de Jobs. Em 1997, ele aceitou o convite para reverter a situação crítica em que a companhia se encontrava.
“A Apple tem alguns ativos extraordinários, mas acredito que sem um pouco de atenção a companhia poderia… morrer.” Foi com essa frase, de acordo com o livro A Cabeça de Steve Jobs, que ele retornou à Apple, em 18 de agosto de 1997.
Aceitando a missão de comandar a reviravolta que a Apple iria sofrer, Jobs apontava o grande vilão: os produtos. No começo da década de 1990, vários lançamentos da maçãzinha se tornaram completos fiascos.
Talvez você nem saiba, mas a Apple lançou um console de videogame, o Pippin. O fracasso foi tão grande que, dos 100 mil produtos fabricados, apenas 42 mil foram vendidos.
E, mesmo em um período turbulento, a receita de Jobs foi ousar. Ano após ano, a maçã surpreendia o mercado da tecnologia com os lançamentos de iPod, iPhone e iPad. Em 2011, Jobs morreu, mas deixou um grande legado para o mundo da tecnologia – uma das marcas mais inovadoras e valiosas do mercado.
Richard Branson, da Virgin Group
Ele já apostou em mais 100 companhias, e boa parte delas não vingou. Aquela que o levou ao sucesso foi a loja de discos, que depois se tornou uma gravadora, a Virgin Records.
Mas em sua trajetória de erros e acertos, Branson já investiu em companhia aérea, banco, marca de lingeries, clube de vinho, vestidos de noiva e até em viagens ao espaço.
Mas seu grande fracasso talvez tenha sido aquele que é o mais citado até hoje, a Virgin Drinks. A marca tinha como carro-chefe a Virgin Cola, concorrente da Coca-Cola. Em pouco tempo, ela fechou as portas.
No entanto, Branson nunca se deixou a abater com os negócios que não deram certo. Pelo contrário, ele acredita que os erros são importantes para o sucesso.
“Toda pessoa, e especialmente todo empresário, deve receber o fracasso de braços abertos. É somente por meio dele que aprendemos. Muitas das mentes mais excelentes do mundo aprenderam isso do pior jeito”, escreveu em seu blog pessoal.
Walt Disney, da Disney Company
Antes de criar o mundo de fantasia e entretenimento do Mickey Mouse, Walt Disney vivia uma realidade completamente oposta. Com muita vontade de ser reconhecido e uma criatividade ímpar, Disney não apresentava as mesmas habilidades para gerir negócios.
Sem o apoio do pai, que não aceitava o seu lado artístico, ele se arriscou em agências de publicidade e em companhias cinematográficas. No entanto, por “sonhar” demais, não durava muito tempo no trabalho. Foi quando, aos 20 anos, fundou a própria companhia cinematográfica, a Laugh-O-grams.
Logo nos primeiros trabalhos mostrava grande talento. O problema era que Disney, por conta da sua exigência na qualidade, não conseguia cumprir os prazos com os distribuidores, e suas produções davam prejuízo. Para encurtar a história, sua empresa faliu e ele estava devendo 15 mil dólares a 43 credores.
Sozinho em seu escritório, o desenhista só recebia a visita de alguns ratos. Um retrato fiel da sua situação à época. Mas do total fracasso e das companhias inesperadas surgiu seu grande personagem: o simpático Mickey Mouse.
O resto da história vocês já sabem. Da falência, Walt Disney se reergueu e chegou a acumular uma fortuna de 1,1 bilhão de dólares.
Edimilson Amorim, da Brasil Uniformes
“O meu grande erro foi não ter feito um planejamento dentro da minha realidade. Subestimei os riscos e supervalorizei as possibilidades de ganhos, que não aconteceram. Era otimismo demais.”É assim que Edimilson Amorim resume o começo difícil da Brasil Uniformes, confecção de uniformes profissionais.
Fundada em 2000, a empresa quase fechou as portas. Mesmo com uma produção de 30 mil peças por mês e um faturamento mensal de 350 mil reais, a confecção não tinha lucro, já que precisava pagar suas dívidas com bancos e esse círculo vicioso não acabava.
“Para aumentar o volume de produção, eu pegava capital de bancos e usei todos os créditos do cartão do BNDES para comprar máquinas. Na primeira parada de movimento, a dívida já estava grande”, conta Amorim.
À medida que o tempo ia passando, os juros ficavam mais pesados. Em dois anos, Amorim chegou a acumular uma dívida próxima de 300 mil reais. Assim, ele não conseguia pegar mais crédito para sustentar o negócio.
A situação estava tão crítica que o pequeno empresário ouvia de consultores e advogados que o negócio não tinha muita solução. Mas Amorim ainda tinha esperanças e uma receita.
“Foram dois anos sofrendo, sem crédito. Passei a comprar material à vista com os fornecedores e encurtei o prazo de pagamento dos meus clientes. E ainda fui renegociar a dívida no banco”, explica o pequeno empresário.
Hoje, a Brasil Uniformes fatura 1,2 milhão de reais por ano e conta com uma carteira de 180 clientes. O número de clientes é bem inferior ao que já teve um dia, mas agora a empresa consegue respeitar os prazos de entrega e trabalha com créditos. Tudo dentro da sua realidade.
André Ferreira, da Luminae
Formado em Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica da USP (Poli), André Ferreira, diretor executivo da empresa de engenharia elétrica Luminae, sempre teve facilidade com números. Desde jovem, ele também já mostrava uma visão bem empreendedora.
Foi assim, aliando suas aptidões com a vontade de empreender, que Ferreira começou, ainda com 16 anos, a dar aulas particulares, individuais ou em grupos, a estudantes que se preparavam para o vestibular.
Em 2003, ele e mais um amigo de faculdade montaram um cursinho para pessoas carentes. A ideia cresceu, e o Polivest chegou até a contratar professores para atender à demanda.
No entanto, não sobrava tempo para conciliar estudos com o trabalho. Ferreira fechou o negócio após dois anos da abertura. Depois de tomar essa decisão, resolveu finalizar o curso de Engenharia e fazer uma série de pesquisas de mercado para, aí então, voltar a empreender.
“Com algumas experiências profissionais durante o curso, vi problemas no mercado de iluminação. Trabalhava-se muito mais a parte de design que, de fato, a questão da eficiência energética”, conta o empreendedor.
Paciência para segurar a ansiedade e muita dedicação foram os segredos de Ferreira para voltar a empreender. E ele voltou com tudo ao mundo dos negócios.
Fundada no fim de 2008, a Luminae não para de crescer. Só em 2014, a empresa faturou 22 milhões de reais. Com mais de 250 clientes em seu portfólio, a Luminae ganhou destaque ao fazer a iluminação da Arena Corinthians, que recebeu os jogos da Copa do Mundo.
Errar faz parte do percurso, já desistir é uma opção. Cabe a você, empreendedor, decidir seguir em frente tentando ou parar no primeiro (segundo, terceiro, quarto…) obstáculo.